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Lula e a “Mídia Golpista” (parte 5)

janeiro 12, 2010 11 comentários

Amigos, continuo impossibilitado de escrever novos artigos por absoluta falta de tempo, mas sugiro a leitura do oportuno artigo do amigo Marcos Pontes sobre o chamado “Plano de Direitos Humanos” assinado pelo presidente Lula no apagar das luzes de 2009. Para quem não está a par do assunto, o decreto prevê, entre outras coisas, a criação de um “ranking” das empresas de comunicação que mais “desrespeitam os direitos humanos”, além de incluir um outro mediador para resolver as pendengas envolvendo o MST, retirando assim poder do judiciário.

Infelizmente, trata-se de mais um passo no lento mais constante processo que vem minando a nossa democracia sob a regência do presidente Lula. Sobre este assunto, escrevemos uma série de artigos no mês de agosto onde lamentavelmente vemos cada dia confirmadas nossas suspeitas.

Discordo de Pontes apenas quando ele afirma que Lula está sendo manipulado por Dirceu e Cia. Na verdade, Lula é mais raposa que todos eles juntos. Todos sabem da tendência autoritária de Lula expressa ainda nos primeiros anos de governo quando sugeriu a criação de um órgão para “monitorar” a imprensa, logo após receber as primeiras críticas. Mais recentemente tem mirado também no Judiciário e até hoje não falou uma palavra sobre a incrível censura ao Estadão que completa hoje 165 dias.

O mais grave disso tudo é o excesso de cautela que alguns setores da impressa começam a ter ao falar do Governo, afinal são apenas empresas que vivem das receitas obtidas com a audiência. Como então bater de frente com um governo que tem 80% de aprovação popular?

REVANCHISMO POR DECRETO

Marcos Pontes

Não é difícil perceber que países com governo ditatorial, como forma sub-reptícia de conquistar a simpatia do mesmo povo que prende em caixas de fósforos de opções e liberdades, costumam colocar em seu nome termos que incluem esse povo, como, por exemplo a República Popular da China ou República Democrática Alemã, que era justamente a metade alemã sob o jugo soviético.

Não é à toa, portanto, que o Item I do Parágrafo 2° do Decreto N° 7.037 ou Eixo Orientador do dito cujo: Interação democrática entre Estado e sociedade civil.

Onde está a interação democrática se o tal decreto foi costurado nos escurinhos dos gabinetes do subchefe de assuntos jurídicos da Presidência da República e da ministra da Casa Civil? Se houve a tal “ampla discussão com a sociedade”, como diz o mui mal intencionado Vanuchi, ela se deu em foros da esquerda, sem a ampla participação popular e sem que em seus programas tenha ficado explicitado que das discussões românticas, utópicas e revanchistas sairiam os artigos, parágrafos e alíneas de uma constituição feita por meia dúzia para subjugar duzentos milhões.

Ao utilizarem os termos “democrático” e/ou popular, os ditadores sabem que seu autoritarismo não se coaduna com o modus vivendi de cidadãos do século 20, quando esse expediente entrou em moda, e nem do século 21, em que a Venezuela de Chávez sofre um paulatino golpe de estado, sistematicamente copiado e aprimorado por seus vizinhos.

Aproveitando-se da vaidade do presidente, seus assessores e conselheiros mais inteligentes vêm fazendo do Brasil seu quintal. Não são poucas as vezes, nesses sete anos de governo, que o presidente diz desconhecer medidas tomadas pelo seu governo. Do mensalão até este decreto, a desculpa da ignorância apareceu muito mais vezes do que poderia ser considerado razoável, em se tratando do mandatário que é comandado pelos a quem deveria comandar.

José Dirceu, Greenhalgh, Marco Aurélio Garcia, Dilma – cada vez mais – e o Göebels poderoso e vingativo, redivivo na figura despótica de Franklin Martins, são algumas das luas pardas que agem como titeireiros do boneco Lula. Manobram com sua ladainha escorregadia o gosto pelas câmeras e pelos jornais que inflam o ego do presidente e o fazem assinar o que bem desejam. A ignorância, a burrice política e histórica de Lula o deixam à mercê de seus manobristas, como reféns das vontades dessa tropa, ficamos nós, cidadãos desunidos.

Com a pecha de democracia representativa, também defendida no tal decreto, usa-se de uma redundância para dar forma às más intenções autocráticas. A democracia, definida como regime “do povo, para o povo e pelo povo” é, per si, representativa, óbvio. Os eleitos o são para nos representar. Não há democracia representativa, ou ela é democracia ou não. O sendo, já é representativa. Mas o enriquecimento lingüístico da expressão é uma outra mania desses legisladores do Executivo para incluírem “o povo” em decisões das quais ele foi excluído.

Entre os muitos absurdos que prega o decreto, um que vem chamando muito a atenção, é a terceira ou quarta tentativa desse governo de calar a imprensa que não lhe agrada. Já na primeira semana depois da posse, criou-se, pela imprensa amiga do Palácio do planalto, a terminologia PIG, Partido da Imprensa Golpista, para incluir qualquer veículo ou jornalista que se opusesse ao todo ou em parte às decisões do governante-mor ou de sua curriola. Até simples blogueiros passaram a ser incluídos nesse PIG pela imprensa amiga-remunerada, pelos partidários idiotas úteis, pelo próprio presidente ou pela turma que ouve o galo cantar, mas não sabe onde, como definia os Maria-vai-com-as-outras o grande Stanislaw Ponte Preta.

As tentativas anteriores frustradas, não foram suficientes para acalmarem a fúria de Dima, Martins, Dirceu e o próprio Lula, em calar que ousasse levantar a voz contra a ditadura que se estabelece paulatina e vagarosamente. Pois o tal decreto prevê o fechamento de jornais e revistas e a cassação das concessões de exploração de canais de rádio e televisão quando determinado veículo transmitir programa ou notícia que contrarie a vontade do poder central, fantasiado de “interesse público”. Lembra a marcha da Tradição, Família e Propriedade que apoiou profundamente o golpe de 64 e que foi muito criticada por essa mesma esquerda que a repete.

Por mais que negue o revanchismo – e falar a gente fala o que quiser, se há verdade nas palavras, é outra história – ele está explícito no documento e dá-se justamente por ter Lula provado da aprovação popular. A população começa a confundir – depois de muito esforço do ministério e da imprensa amiga – PT, Lula e governo. Tendo Lula 80% de aprovação popular, misturaram os três no mesmo caldeirão e utilizam-se dessa confusão popular para aplicarem seu socialismo. Se Brizola já falava no socialismo marrom, referindo-se ao socialismo que queria criar aos moldes brasileiros, a equipe inteligente, porém mal intencionada, traçou sua linha programática.

Num país em que até assassinato prescreve, pelo Código de Processo Penal em vigência, como justificar que a esquerda raivosa tente prescrever a Lei da Anistia e ressuscitar atos ilegais por parte dos governos de então, mais antigos que a própria Lei que os anistiou? Pior, por que só determina a investigação de crimes praticados pelos agentes do governo e não pelos praticados pela própria esquerda? Essa, aliás, tem sido uma característica muito forte no governo petista: a discriminação, o separatismo, a cisão entre classes, cidadãos e ideologias. Já jogaram pretos contra brancos; índios contra citadinos; pobres contra ricos… E assim tem-se mostrado nas sublinhas do decreto, criando discriminações contra seus opositores e os situacionistas. Um governo eleito para presidir para todos os brasileiros, teima em separar a população entre brasileiros e golpistas. Dá-nos um golpe atrás de outro e se fantasia de vítima.

Haviam várias esquerdas no período de exceção e hoje ela se divide em três: a que está contra o revanchismo, portanto vista como traidora pela situação; a completamente ignorante que vai para o lado que a maré bater, repetindo palavras de ordem e os discursos dos mandatários; e a que elabora o golpe à sociedade, capitaneada por Vanuchi e Dilma.

Não existe revolução essencialmente popular. Ela não ocorreu na Rússia de 1917, nem na China de Mao, nem em Cuba em 1959 e nem na marcha dos caras pintadas contra Collor em 1992. Todas as revoluções foram orquestradas por pequenos poderosos que ansiavam pelo grande poder. Aqui se desenha uma revolução socialista sob a batuta dos socialistas maquiavélicos, inteligentes, raivosos e vingativos. Usa-se a massa de manobra popular, alienada e ignorante e os donos do capital que sustentam qualquer governo, independentemente de ideologia, desde que mantenha o lucro (ironia os socialistas usarem os mais capitalistas para imporem sua revolução) para massacrar qualquer opinião contrária. Não se assustem se, depois de estabelecida essa república sindicalista ditatorial, voltarmos a falar de política a portas fechadas com medo dos alcaguetes e da polícia política que se formará (aliás, ela já existe desde que o PT é PT, apenas não foram lhes dadas as braçadeiras negras que lhe dão poder de prender, bater, cassar e matar a oposição).

O plano vem em forma de um decreto, ferramenta ditatorial tão combatida por todas as esquerdas quando eram oposição e os generais o utilizavam para comandar o país.

Os governistas lançaram o balão de ensaio de uma constituinte há alguns meses. Muito provavelmente esse projetão já estivesse montado e pronto para ser apresentado aos parlamentares como esboço da nova Constituição Federal. Como a idéia de uma Assembléia Nacional Constituinte foi, de pronto, rechaçada por boa parte da imprensa e pela parte da população que pensa e, por isso mesmo, viu desenhado o golpe que se armava, a camarilha parda que se esconde sob a saia da ministra-candidata resolveu fazer sua própria constituinte e conseqüente constituição, socialista, irada e revanchista.

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Lula e a “Mídia Golpista” (PARTE 4)

setembro 1, 2009 16 comentários

censura_imprensa

No dia 23 de agosto publiquei o terceiro artigo da série Lula e a “Mídia Golpista”, onde enumerei alguns indícios de que o Brasil estaria entrando no perigoso caminho trilhado pela Venezuela, onde a liberdade de expressão tem sido cerceada por um governo que a cada dia assume um caráter mais autoritário. Citei o caso da censura ao Estadão no caso Sarney (que continua a exatos 33 dias) e algumas ameaças do legislativo no caso do projeto de lei de Maluf que castra poderes do Ministério Público ao investigar políticos, além da nova lei de imprensa em tramitação no Congresso.

Alguns acharam a preocupação exagerada, mas eis que na semana seguinte um novo caso ocorre com o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor que teve um de seus comentários retirados do site da CBN por ordem da Justiça. Aliás, esta não foi a primeira vez que o jornalista foi censurado pelo PT (ver matéria publicada pelo Observatório da Imprensa, em 2006 – ver aqui)

Sou ouvinte assíduo do Jabor, mas, coincidentemente, não o ouvi neste dia. Mais estranho ainda é o fato do jornalista não tocar no assunto nos comentários seguintes. Observei também que seus comentários têm sido menos contundentes do que de costume, fugindo até mesmo do tema “política” com uma certa frequencia. Fiquei surpreso hoje (só hoje) de ver no blog Compartilhando mais esta afronta a nossa democracia. Estaria o jornalista já se autocensurando, como querem os governos totalitários?

Abaixo publicamos trechos do artigo de Dora Kramer no Estadão de domingo, além do comentário censurado de Jabor.

TSE retira comentário de Arnaldo Jabor do site da CBN

Por Dora Kramer

“A decisão do TSE que determinou a retirada do comentário de Arnaldo Jabor do site da CBN, a pedido do presidente ‘Lula’. Até pode ter amparo na legislação eleitoral, mas fere o preceito constitucional da liberdade de imprensa e de expressão, configurando-se, portanto, um ato de censura.”

Em outro trecho:

“Jabor faz parte de uma lista de profissionais tidos pelo Presidente Lula como desafetos e, por isso, passíveis de retaliação à medida que se apresentem as oportunidades!”

A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE

Por Arnaldo Jabor

O que foi que nos aconteceu? No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor,’explicáveis’ demais.

Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas. Tudo já aconteceu e nada acontece.

Os culpados estão catalogados, fichados , e nada rola. A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe.

Isto é uma situação inédita na História brasileira !!!!!!!

Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político, infiltrada no labirinto das oligarquias, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada !!!!!!!!

Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos !!!!

Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes, as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de Lula nega e ignora tudo !!!!!

Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações.. Sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar. O outro não existe para ele e não sente nem remorso nem vergonha do que faz !!!!!

Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder. Este governo é psicopata!!! Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas, passam-lhe a mão nas nádegas.

A verdade se encolhe, humilhada, num canto. E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de ‘povo’, consegue transformar a Razão em vilã, as provas contra ele em acusações ‘falsas’, sua condição de cúmplice e Comandante em ‘vítima’!!!!!

E a população ignorante engole tudo. Como é possível isso? Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes na Fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados – nos comunica o STF.

Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem. A Lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização.

Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua. O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo. Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas tem de ser escrito…

Está havendo uma desmoralização do pensamento. Deprimo-me: Denunciar para quê, se indignar com quê? Fazer o quê?’..

A existência dessa estirpe de mentirosos está dissolvendo a nossa língua. Este neocinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios.

A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio, tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo. A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha, muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais aos fatos! !!!!

Pior: que os fatos não são nada – só valem as versões, as manipulações.

No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca, mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país e deixou-nos ver os intestinos de nossa política. Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da república. São verdades cristalinas, com sol a Pino. E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de ‘gafe’.

Lulo-Petistas clamam: ‘Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara! Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT? Como ousaram ser honestos?’ Sempre que a verdade eclode, reagem.

Quando um juiz condena rápido, é chamado de exibicionista’. Quando apareceu aquela grana toda no Maranhão (lembram, filhinhos?),a família Sarney reagiu ofendida com a falta de ‘finesse’ do governo de FH, que não teve a delicadeza de avisar que a polícia estava chegando… Mas agora… é diferente. As palavras estão sendo esvaziadas de sentido. Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para contestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma neo-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte.

Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos, movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o Populismo e o simplismo.

Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em ‘a favor’ do povo e ‘contra’, recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual..

Teremos o ‘sim’ e o ‘não’, teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro, teremos a volta da oposição Mundo x Brasil, nacional x internacional e um voluntarismo que legitima o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois.

Alguns otimistas dizem: ‘Não… este maremoto de mentiras nos dará uma fome de Verdades’!

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Para ver o primeiro artigo da série Lula e a “Mídia Golpista” , clique aqui.

Para acesar  o site Censura Nunca Mais, clique aqui.

Lula e a “Mídia Golpista” (PARTE 3)

imprensa

Terminamos o segundo post desta série com uma pergunta: a quem interessa uma imprensa desmoralizada? A resposta é óbvia: a todos os corruptos do país, especialmente os corruptos políticos.

Neste contexto, o atual Governo presta um grande desserviço a nossa democracia, pois, ao usar sua popularidade para colocar a sociedade contra a imprensa, Lula coloca a faca e o queijo nas mãos dos congressistas para que estes elaborem uma nova lei de imprensa, de acordo com seus interesses.

Um mau prenúncio

O projeto de lei do Dep. Paulo Maluf que limita os poderes do Ministério Público na investigação de políticos é uma mostra do que pode vir a ocorrer num futuro com uma nova lei de imprensa criada por um Congresso em conflito com a mídia. Este mesmo projeto (já aprovado na Câmara e atualmente em tramitação no Senado) foi usado pelo próprio presidente Lula para “alertar” o Ministério Público com uma possível “castração de poderes”, caso o novo procurador geral da república não tivesse cuidado com as “biografias” dos investigados (no caso, Sarney). Para quem não sabe, o tal projeto proíbe a atuação do Ministério Público de investigar parlamentares quando “existirem motivações políticas” nas iniciativas dos procuradores. O problema é que os políticos usam a desculpa da “perseguição política” para se defenderem de quaisquer acusações. Logo, a atuação do Ministério Público, uma das poucas instituições de respeito do país, pode ficar de mãos atadas para investigar os políticos, caso tal projeto seja aprovado.

O verdadeiro golpe

Desde o fim da ditadura militar, parlamentares e jornalistas travam uma verdadeira batalha nos debates sobre para a criação de uma nova lei de imprensa. Em 1992, o Senado chegou até a votar uma lei que previa, entre outras coisas, a volta de um dos mais autoritários dispositivos da lei da instituída no período militar, que previa a prisão de jornalistas como punição para supostos delitos de imprensa. Para punir e principalmente inibir os meios de comunicação, os senadores ainda instituíram multas entre 10 e 20% do faturamento anual das empresas, valores que poderiam ser acrescidos em até 50% em caso de reincidência!!!

Felizmente o tal projeto de lei não foi sancionado e as discussões prosseguiram ao longo dos anos, chegando ao absurdo de termos hoje uma lei revogada e um projeto ainda em tramitação.  Ou seja, o Brasil é hoje o único país do mundo que não tem uma lei de imprensa.

Tal situação possibilita que Sarney, por exemplo, use dispositivos correlatos existentes nos códigos Civil e Penal (editados em plena ditadura Vargas) para censurar o jornal Estadão e veículos de comunicação do Maranhão e do Amapá.

Também usando os mesmos artifícios, a Igreja Universal do bispo Edir Macedo tem também minado os grandes jornais paulistas com milhares de processos em diversas comarcas espalhadas em todas as regiões do país. O “bispo”, aliás, tem engrossado o coro governista na guerra contra a “mídia golpista”, especialmente em relação à Rede Globo, hoje último obstáculo para a ascensão da sua Rede Record ao topo da audiência.

Em outra frente de combate a “mídia golpista”, os blogueiros a serviço do Lulismo (PHA e Azenha, por exemplo) aproveitam a ainda livre blogosfera para denegrir e promover o boicote dos seus “fiéis” leitores aos veículos de comunicação incluídos na lista negra do “PIG”, sigla de “Partido da Imprensa Golpista”, termo inventado pelo deputado petista Fernando Ferro e   popularizado por Paulo Henrique Amorim.

Se hoje existe uma grita geral nos três poderes contra a divulgação da imprensa de gravações e documentos obtidos de forma “ilegal”, no futuro certamente teremos na nova lei de imprensa proibindo tais reportagens classificadas por Lula como “denuncistas”.  Ou seja, será o fim das reportagens investigativas, pois os veículos de comunicação terão que ficar excessivamente cautelosos. E aí teremos uma autêntica “democracia autoritária”, bem nos moldes venezuelanos, onde veículos de comunicação de oposição ao governo são fechados e os jornalistas que continuam na ativa se sentem cada vez mais policiados ideologicamente.

Neste cenário cada dia mais radicalizado, pode sobrar para a Internet alguns “dispositivos legais” da lei de imprensa e eleitoral com o objetivo de proteger a “honra” das vossas excelências. Se isto ocorrer, espaços como este aqui certamente não terão a mesma liberdade para criticar os desmandos e abusos dos nossos ilustres representantes.

Quem perde com isso, claro, é a sociedade, pois a divulgação das falcatruas das nossas “excelências” é uma das poucas formas de punição que ainda funcionam neste país, já que bandido de colarinho branco não fica mais de um dia na cadeia (e nem sequer mais usa algemas por determinação do ilustre ministro do STF, Gilmar Mendes).

Blogs versus jornalões

Com a ascensão da Internet como meio de comunicação, existe uma tendência mundial de diminuição de importância dos grandes jornais, o que já se reflete nas reduções de tiragens e fechamento tais veículos. Nos EUA, por exemplo, todos os grandes jornais estão em crise. No Brasil, os principais jornais de alcance nacional (Folha, Estadão e O Globo) também têm reduzido suas tiragens.

No sentido inverso, os blogs políticos crescem a cada dia em importância. O blog de Noblat, por exemplo, em alguns momentos chega a ter mais audiência que os maiores portais do Brasil, entre os quais incluem-se as próprias versões on-line dos grandes jornais.

O problema desta nova realidade é que os blogs, além de terem um caráter mais opinativo, seus colunistas costumam exagerar na contundência de suas críticas, tanto ao governo quanto à oposição. Diferente de um grande jornal, por exemplo, onde as matérias são revisadas e analisadas pelos editores antes de serem publicadas, nos blogs as informações são disseminadas instantaneamente de forma direta ao público, na maioria das vezes sem o cuidado necessário na checagem das fontes.

O problema da distorção das informações nestes veículos é acentuado por dois fatores: o primeiro é a participação online dos leitores levando os pontos de vistas do colunista aos extremos (já que estes podem se apresentar com nomes e emails falsos e, portanto, se sentem no direito de falar qualquer coisa); o segundo é a censura de comentários contrários à opinião do colunista, o que provoca uma concentração de opiniões concordantes, levando aos leitores destes espaços a visões distorcidas da realidade e a um acirramento da guerra ideológica entre governistas e oposição (ver o exemplo do Paulo Henrique Amorim no primeiro artigo desta série).

Claro que em algum momento alguma coisa terá que ser feita para regulamentar a blogosfera. O problema é que qualquer iniciativa neste sentido será motivo de grande polêmica, principalmente em um ambiente de crise institucional com os três poderes em guerra com a imprensa. Coragem para enfrentar a opinião pública os congressistas já demonstraram ter no arquivamento das denúncias contra Sarney, principalmente quando contam com o apoio de um presidente com altos índices de aprovação.

Enfim, estamos caminhando para um terreno perigoso, caminho já trilhado pela Venezuela de Hugo Chaves. Nosso presidente da república, de forma consciente ou não, tem sido um dos principais vetores deste processo, ao colocar seus interesses pessoais acima dos interesses da Nação e ao tentar colocar a sociedade contra a imprensa, o principal instrumento de policiamento dos nossos políticos que dispomos hoje.

Para ver o primeiro post desta série, clique aqui.

Lula e a “Mídia Golpista” (PARTE 2)

bem-me-quer

O processo de “desencantamento” da imprensa com o presidente Lula (descrito na primeira parte deste artigo), pressupõe que no início do governo a mídia ainda não tinha o caráter “golpista” a ela atribuído nos últimos meses. Para embasar esta afirmação, analisei as três primeiras pesquisas científicas que apareceram no Google sobre a cobertura dos principais jornais do país nas eleições de 2002, das quais posto aqui as principais conclusões.

Pesquisa 1 – Katia Saisi *

Citação 1:
“Verifica-se que os percentuais de citações que os jornais fizeram de cada candidato são bastante próximos e não houve diferença maior do que três pontos. No primeiro turno, o destaque é dado para Serra (31,48% na Folha e 31,44% no Estado), seguido por Lula (28,30% na Folha e 30,88% no Estado), Ciro (24,30% e 23,41), Garotinho (15,34% e 14,07%). (…) Já no segundo turno, Lula liderou praticamente com 60% das aparições nos dois jornais, ficando Serra com 40%.”

Citação 2:
“O eleitor escolheu entre os que se enquadravam ao esquema de mercado, sem se ter a chance de questionar as ofertas (…) Discutimos quem era o mais competente para administrar o país sem pôr em risco o sistema.”

Pesquisa 2 – Emerson Urizzi Cervi **

Citação 1:
“A cobertura da mídia impressa da campanha presidencial ficou próxima do formato de cobertura dos meios eletrônicos: fragmentada e pouco preocupada com temas substantivos”.

Citação 2:
“Os dados também permitem afirmar que Lula não pode ser considerado perseguido pela imprensa, posição que muitas vezes o próprio candidato e seu partido costumam defender. Lula recebeu o volume de cobertura proporcional à média da intenção de votos no período. O maior índice de aparições de Serra, por si só, não foi suficiente para reduzir a cobertura feita pela imprensa da candidatura de Lula. A diferença das valências negativas em relação às valências positivas do candidato do PT ficou próxima das observadas no caso de José Serra”.

Pesquisa 3 – Alessandra Aldé ***

Citação 1:
“O Estado de São Paulo foi o jornal mais parcial analisado. Na verdade, a condição declarada de apoiar o candidato do governo tornaria, no entender dos editores do próprio diário, a cobertura mais transparente para o leitor”.

Citação 2:
“Na Folha, destacam-se os altos índices de neutralidade (…)  É interessante notar, também, a linha editorial, em que as matérias que têm valência são quase sempre negativas, e para todos os candidatos, ressaltando a vocação crítica que a Folha sempre buscou”.

Citação 3:
“O Globo teve uma cobertura menos regular, vinculada aos fatos de cada quinzena, e portanto, favorecendo ora um, ora outro. Surpreende, por parte de um tradicional bastião governista em processos eleitorais, a benevolência adotada no trato de Lula. O interesse jornalístico e a campanha correta do candidato deram origem a uma cobertura francamente favorável, que reproduziu o favoritismo do candidato petista.”

Citação 4:
“As organizações Globo (…) também tiveram como característica marcante a iniciativa de capitalizar o assunto eleitoral, explorando o potencial interesse pelo tema eleitoral. Os principais candidatos também comparecem a suas primeiras entrevistas exclusivas no Jornal Nacional (…). Assim, o pico de cobertura positiva para todos os candidatos (…) explica-se graças à promoção, pela Rede Globo, de uma série de entrevistas com todos os candidatos”

Conclusões sobre as conclusões das pesquisas

De um modo geral os resultados das pesquisas são complementares. No primeiro turno, a imprensa deu um leve destaque a mais a José Serra, quadro que se inverteu no segundo turno, quando as pesquisas já apontavam uma tendência de vitória para Lula. Ou seja, da mesma forma que os candidatos se moldam aos anseios dos eleitores e do sistema, também é verdade que os meios de comunicação “pendem” para os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas.

Ou seja, ao contrário do que o bloco governista fala hoje sobre a imprensa, o fato é que, quando assumiu, em 2003, Lula gozava de total apoio da sociedade e da imprensa, a qual se desmanchava em elogios pelo enorme feito do ex-metalúrgico que se tornou presidente, orgulho da democracia brasileira no exterior.

A perda do apoio da imprensa (como demonstrado no post anterior) é um processo que vem ocorrendo no dia-a-dia da cobertura jornalística. Ao contrário das massas que se encantam com os discursos inflamados do presidente, os jornalistas percebem em tais falas cada manobra política, sempre com o objetivo de se promover e, ao contrário, diminuir os adversários. Da mesma forma que o presidente discursa para as massas falando mal do senado, por exemplo, ele é capaz de, no mesmo dia, discursar para os senadores os enaltecendo.

Um caso que ilustra bem a decepção dos jornalistas com o presidente é o caso do editor da Carta Capital, revista que é quase uma porta voz do PT. O ítalo-brasileiro Mino Carta, decepcionado com o governo, abandonou seu blog e a redação da revista desde fevereiro de 2009. Em seu último post, no seu blog, o jornalista descreve sua decepção progressiva com os rumos do país que escolheu para viver, bem como com o governo petista que acreditou ser a esperança para o Brasil. (Para ver o post, clique aqui)

Guerra declarada

Uma prática condenável comum entre os advogados quando tentam defender um réu culpado é desqualificar o acusador. E assim fez o governo. Ao desqualificar a imprensa atribuindo-lhe um caráter golpista de direita, o governo repete a retórica de Hugo Chaves, criando um clima de acirramento cada vez maior na sociedade brasileira, incentivando a luta de classes e promovendo o ódio em relação à imprensa.

E aí chegamos ao festival de irracionalidades dos últimos meses. Os blogs a favor e contra o governo contribuem ainda mais com tal processo, pois concentram leitores de opiniões semelhantes. Na quase ausência de argumentos contrários, tais leitores sentem-se cada vez mais convictos de suas posições e dispostos ao enfrentamento.

A tática de contra-informação do governo se reflete tanto na “tropa de choque” do Congresso, quanto nas mídias “alternativas” e jornais populares. Neste contexto, a recém lançada coluna “O presidente responde” tem uma importância fundamental na divulgação da opinião do governo nos jornais regionais de todo o país em contraposição aos jornalões Folha e Estadão.

Nesta guerra, alguns fatos isolados costumam chamar mais atenção do que deveriam (e vice-versa). No meio jornalístico, o temor de ver o Brasil trilhar nos rumos da Venezuela encontram eco na opinião favorável do presidente em impor um controle externo na imprensa, no desejo de controle da Internet, nas censuras via liminar que começam a ocorrer no episódio Sarney, além do boicote à grande imprensa promovido pelos blogueiros governistas.

A questão que fica é: a quem interessa uma imprensa desmoralizada? A resposta é óbvia: a todos os corruptos do país, especialmente os corruptos políticos.

Para ver a primeira parte deste artigo, clique aqui.

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Autores das pesquisas citadas:

* Katia Saisi é  jornalista formada pela PUC/SP, pós-graduada em Comunicação e Marketing, professora da Universidade Anhembi Morumb e doutoranda em Ciências Sociais pela PUC/SP. Link da pesquisa: http://www.pluricom.com.br/forum/o-discurso-jornalistico-sobre-a-campanha

** Emerson Urizzi Cervi, Jornalista, Doutorando em Ciência Política e pesquisador do Laboratório Doxa de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública. Link da pesquisa: Fonte: http://bocc.ubi.pt/pag/cervi-emerson-imprensa-eleicoes-2002.html#foot21

*** Alessandra Aldé, pesquisadora da UFRJ, graduada em Comunicação Social pela PUC-RJ, mestrado e doutorado em Ciência Política no IUPERJ e professora adjunta da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Link da pesquisa: Fonte: http://doxa.iuperj.br/artigos/Presidenciais2002jornais1.doc

Lula e a “Mídia Golpista” (PARTE 1)

imprensa

Nos últimos meses a Internet tem se transformado em um grande campo de batalha ideológica entre os defensores incondicionais do Presidente Lula e seus os críticos. Na verdade, este é um processo que vem ocorrendo em menor grau desde o escândalo do Mensalão, mas que arrefeceu após as eleições de 2006. Recentemente a batalha recomeçou devido principalmente a cinco graves erros políticos do Governo Lula.

Erro nº 1: o eterno palanque

O presidente, desde que assumiu o governo, nunca desceu do palanque. Em todas as oportunidades que teve de falar em público, procurou sempre se apoderar de todos os méritos pelo bom momento econômico que vive o país, fazendo comparações descontextualizadas em relação ao governo anterior, apesar de não mudar uma vírgula das políticas “neoliberais” herdadas e, paradoxalmente, tão criticadas quando oposição.

Os discursos embalados pelo famoso “nunca na história deste país” surtiram efeito e a popularidade do presidente foi ainda mais acentuada com a unificação e ampliação dos programas sociais implantados pelo governo anterior, rebatizado agora de Bolsa Família.

Claro que uma parcela menor da população percebeu tais manobras políticas do presidente, principalmente entre os jornalistas. Surgia então o embrião do que os partidários do presidente viriam a chamar mais adiante de “Mídia Golpista”.

Erro nº 2: o desejo expresso de presidente de controlar a imprensa

Já nas primeiras críticas ao seu governo, o presidente Lula fez questão de expressar seu desejo de criar “algum mecanismo de controle externo da mídia”. O presidente já mostrava, ainda no seu primeiro mandato, sua simpatia pelo autoritarismo que começava a ser implantado na Venezuela de Hugo Chaves.

O assunto, claro, repercutiu muito mal na imprensa traumatizada com as duas décadas de regime militar. O embrião da “Mídia Golpista” se desenvolveu mais um pouco.

Erro nº 3: a antecipação da campanha

Os primeiros indícios da antecipação da campanha eleitoral foram as sucessivas manobras em direção ao terceiro mandato. Derrotada a proposta, o Governo partiu para o plano B: o lançamento da ministra Dilma Roussef como candidata à sucessão. O palanque foi ainda mais ampliando, tanto com a presença da candidata, quanto pelo badalado Plano de Aceleração do Crescimento. Surgia então a “mãe do PAC”.

Se o Bolsa Família encantou as massas, o PAC encantou os prefeitos e governadores, que viram nos bilhões anunciados pelo Governo a oportunidade de reforçarem suas “realizações” e, de quebra, seus votos nas eleições municipais.  Todo mundo queria pousar na foto ao lado do presidente. No encontro de prefeitos em Brasília, por exemplo, foi disponibilizado até um estúdio de fotografias para criar montagens de candidatos ao lado de Lula. Mais uma vez a tática funcionou e o presidente atingiu os seus comemorados 80% de aprovação.

Claro que uma parcela da população continuou a perceber tais manobras. As seções de comentários dos grandes colunistas políticos começaram a receber cada vez mais comentários de cidadãos cada vez mais críticos, endossando os artigos cada vez mais contundentes sobre os excessos do presidente.

Erro nº 4: a relação promíscua com o PMDB

O fortalecimento do PMDB nas eleições municipais de 2008 levou também o partido “amigo do poder” a aumentar seu número de ministérios, além de cargos importantes nas estatais e no Congresso. O presidente, no auge dos seus “80%”, cedeu tudo que o ressurgido das cinzas Renan Calheiros pediu. Em troca, claro, o partidão dava-lhe o apoio incondicional ao projeto de perpetuação no poder do Governo Lula.

Claro que uma parcela da população percebia tais manobras e já não conseguia calar diante de tantas aberrações políticas. E aí veio a gota d’água: a interferência do presidente Lula na eleição do candidato José Sarney à presidência do Senado, preterindo, inclusive, o candidato do seu próprio partido.

A esta altura, alguns colunistas importantes já havia assumido definitivamente uma posição de oposição ao governo, como Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, por exemplo. Em contraposição, alguns colunistas financiados pelo Governo, como Paulo Henrique Amorim, Nassif e Azenha, por exemplo, escancararam de vez a campanha política pró endeusamento de Lula e, de quebra, da candidata Dilma.

rro nº 5: apoio incondicional a Sarney

A crise no Senado já se arrastava há anos, tendo inclusive dois presidentes consecutivos (Jáder Barbalho e Renan Calheiros – ambos do PMDB) renunciado em meio a uma sucessão de escândalos. A eleição da Sarney foi apenas mais um episódio da crise, agravada com as manobras do presidente Lula para elegê-lo e com a sua indisfarçável vaidade ao fingir que não queria ser candidato, repetindo a velha retórica coronelista de que foi “convocado” pela vontade da maioria para assumir o cargo.

Ferido, o PT recolheu-se a posição de coadjuvante no jogo político do Senado. E aí começaram a surgir as primeiras de uma sucessão interminável de denúncias contra o velho coronel (comenta-se nos bastidores que as primeiras denúncias teriam vindo do próprio PT descontente com a manobra para eleger Sarney).

Como na retórica coronelista a melhor defesa é o ataque, Sarney atribuiu as denúncias a uma terrível “campanha midiática”. Lula, confiante nos seus 80% de popularidade, fez coro ao presidente do STF, Gilmar Mendes, na crítica ao “denuncismo” da imprensa e fez questão de diferenciar Sarney do cidadão comum, tendo chegado a aconselhar o Procurador Geral da República a ter cuidado com as “biografias” dos investigados (falando inclusive de uma possível “castração de poder” do Ministério Público).

Rasgando o diploma de jornalista

O acirramento das disputas políticas na Internet alterou também a forma de fazer jornalismo. A responsabilidade em mostrar ambos os lados da notícia deixou de ser uma preocupação. A parcialidade de ambos os lados fica cada dia mais evidente. Entre os críticos do Governo, há uma grande preocupação com a liberdade de imprensa, cada vez mais suprimida na Venezuela de Hugo Chaves, o grande representante do “neo-socialismo” do século XXI, linha ideológica defendida por Lula. Do lado governista, as “conspirações da direita golpista” seriam as reais razões da crise do Senado e da CPI da Petrobrás.

Para fazer frente à maioria dos colunistas de oposição, os colunistas governistas acirraram os discursos a tal ponto que a os títulos das boas notícias da área econômica são sempre acompanhados agora de um inacreditável “Bye, bye Serra!”.

Os apelidos e termos pejorativos tornaram-se cada vez mais comuns. Os lulistas são chamados agora de “petralhas”, enquanto que os anti-lula são chamados de “demotucanos”, “tucanalhas”, etc.

A imaginação de conspirações também chegou às raias da loucura. Paulo Henrique Amorim, por exemplo, chegou a alardear em seu blog a seguinte “conspiração”: “TIRAR SARNEY É O GOLPE DE ESTADO DE DIREITA”. Segundo agora “blogueiro”, o PIG (Partido da Imprensa Golpista) quer derrubar Lula. Se Lula cair, assume o vice. Se o vice morrer, assume Temer. Se Temer recusar(?), assumiria Perillo (já contando que Sarney tivesse renunciado por causa da “campanha midiática” em curso – mais um “se”) e então, o mentor de tudo isso, o impopular Gilmar Mendes (que o PHA quer a todo custo jogar para a oposição, quando, na verdade, suas idéias estão em plena sintonia com as de Lula e do Sarney, no que concerne a diferenciação de indivíduos com ou sem “biografia”), assumiria por pelo menos 48 horas!!! Neste pequeno intervalo de tempo Gilmar Mendes teria então uma lista de “tarefas urgentes”, entre as quais a principal seria a privatização da Petrobrás e a venda do Pré-sal!  (Se duvidarem, está aqui o link http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=14876)

E o mais surreal disso tudo é que existem mais 100 comentários de leitores “alarmados” com a iminência de tamanho “golpe”. Tentei postar alguns comentários lá, mas todos foram censurados. Ao procurar o email do “jornalista” para lhe dirigir uma crítica direta me defrontei com sua apresentação em “Quem Somos”, onde PHA se diz um representante de um novo jornalismo “colaboralivo” e “DEMOCRÁTICO”!

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